Cientistas descobrem doença que dizimou população asteca após cinco séculos de mistério

15:13


Foi em 1545 que iniciou-se a dizimação completa da população asteca. Diversas pessoas começaram a adoecer, tendo febre, dores de cabeça, sangramento nos olhos, boca e nariz, morrendo poucos dias após o surgimento dos sintomas.
Em apenas cinco anos, 15 milhões de pessoas morreram dessa forma, cerca de 80% da população, em uma epidemia violenta que causou o desaparecimento dos astecas e foi chamada de “cocoliztli“. Na língua asteca nahuati, a palavra significa “peste”.
Ninguém sabia, porém, o que havia causado a chegada dessa doença, pelo menos não até o Instituto Max Planck, da Universidade de Harvard (EUA) e do Instituto Nacional de Antropologia e História do México, descobrirem indícios de uma resposta.
Em um estudo publicado nesta segunda-feira (15) na revista Nature, Ecology & Evolution, os pesquisadores apontaram como possível causa a febre entérica, gerada por uma bactéria salmonela trazida pelos europeus.
 “A ‘cocoliztli’ de 1545-50 foi uma das muitas epidemias que atingiu o México após a chegada dos europeus, mas foi especificamente a segunda das três epidemias mais devastadoras e que levou ao maior número de mortes de seres humanos”, afirmou Ashild Vagene, do Instituto Max Planck e da Universidade de Tübingen, na Alemanha.
Coautora do estudo, a pesquisadora diz que os cientistas puderam fornecer as provas diretas da causa da epidemia usando DNA antigo.
“Pela introdução de uma nova ferramenta de análise metagenômica chamada Malt, aplicada aqui para buscar traços de DNA patogênico antigo, fomos capazes de identificar [a bactéria] Salmonella enterica em indivíduos enterrados num cemitério (…) em Teposcolula-Yucundaa, Oaxaca, no sul do México”, diz o texto introdutório da pesquisa.
 “Com base em evidências históricas e arqueológicas, esse cemitério [é o único que] tem ligação com a epidemia de 1545-1550, que afetou amplas áreas do México”, completa.
Foram analisados o 29 esqueletos enterrados no local, com profundo estudo de seus DNA. 10 deles apresentaram variedades Paratyphi C da bactéria, que causa febre entérica, da qual a febre tifoide é um exemplo. O subtipo mexicano praticamente não causa mais infecções em humanos hoje em dia.
A febre entérica, porém, ainda é tratada como ameaça ao mundo todo. Estima-se que ela tenha feito ao menos 27 milhões de vítimas em todo o planeta no ano 2000. Os sintomas são febres elevadas, desidratação e complicações gastrointestinais.
Investigadora do Instituto Max Planck, Kirsten Bos destacou que a descoberta é um “avanço essencial” porque apresenta um novo método para estudo das enfermidades do passado. Segundo os cientistas, até agora era difícil determinar as causas de doenças na maioria dos casos de epidemias históricas estudadas.
“Em alguns casos, por exemplo, os sintomas causados por infecções de distintas bactérias ou vírus podem ser muito parecidos, ou os sintomas apresentados por certas doenças podem ter mudado nos últimos 500 anos”, dizem os pesquisadores.
De acordo com eles, diversas variedades da salmonela são propagadas através de água ou comida e podem ter sido transportada até o México pelos cachorros dos espanhóis, uma vez que já é conhecido o fato da Salmonella enterica ter existido na Europa durante a Idade Média.
No estudo, a Salmonella enterica foi o único germe detectado, mas é possível que haja outros que não foram descobertos e que podem ter contribuído para a dizimação dos astecas.
A “cocoliztli” é considerada uma das epidemias mais letais da História humana, aproximando-se da peste bubônica, que, no século 14, matou 25 milhões de pessoas na Europa ocidental.

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